Da minha janela...meu olhar!

17 de maio de 2011

Pés descalços...teu olhar me emociona!

  Mais um dia de trabalho começa, estou ali,  no mesmo lugar há tantos anos, já vi de tudo, tudo acontece numa rua tão movimentada na zona sul do Rio de Janeiro
Aquele dia de Abril foi diferente, lá estava eu, cuidando de meus afazeres diários, quando entra um garotinho franzino, roupas simples, pouco mais velho que meu filho caçula.Impressionante o que senti naquele olhar...vi nos olhos daquela criança o abandono e tristeza, muita tristeza!
  Ele olhou pra mim e disse;
-Tia, eu quero comprar essa bermuda. 
-Mas você tem o dinheiro? 
O menino respondeu que iria buscar e se foi. 
 Voltando logo depois com seu olhar triste, me entregou o dinheiro.
Mas aqui só tem a metade! Falei para ele desconfiada. 
 Ele me olhou com seu olhar triste a ainda por cima cheio de lágrimas e perguntou;
-Esse dinheiro não dá não, tia?
 Respondi que não, ele continuava a me olhar nos olhos. Perguntei em seguida:
-Por que você quer essa bermuda?
-É que esta que estou usando está muito grande, era do meu irmão mais velho, ele já morreu. Ela fica caindo, não para, tenho que ficar segurando o tempo todo.
 Meu coração de mãe começou a ficar triste com essa conversa.Resolvi que precisava fazer alguma coisa.
-Olha, vou completar o valor que falta pra você levar essa bermuda, tá bem?
-Ah tá muito obrigado tia!
  O menino de olhar triste foi todo alegre até a cabine e voltou vestido em sua bermuda nova, sorrindo porém o olhar continuava triste. Me entregou  quatro reais agradeceu e foi saindo.
 Olhei para aquela criança indo embora e só aí percebi que ele estava descalço. Chamei-o de volta e questionei;
-Eei você não tem sapatos? Ele de cabeça baixa disse;
-Tenho, mas não me servem.
-Vou trazer sapatos e roupas do meu filho pra você, tá bom? Como se chama? Qual é a sua idade?
-Meu nome é Bruno e tenho eu acho que é onze anos.
-Bruno você não tem uma casa?
-Tenho.
-Por que está na rua?
-Ah não dá pra morar com meus pais ..eles bebem...me batem..tenho que cuidar de muitos irmãos e lá nunca tem comida. Uma senhora já me adotou.
-Ah é ?Onde você mora com essa senhora?
-Na rua ué.
-Mas ela te adotou pra morar na rua?
-É..ela ficou com dó de mim...aí eu ajudo ela a pedir.
-A pedir esmola?
-É....Mas só peço...não roubo.
   Neste momento percebi que não dava mais pra continuar aquela conversa porque o menino de olhar triste agora estava chorando.
Combinei com ele para voltar no dia seguinte, ele veio, com mesmo olhar os mesmos pés descalços.Conversamos mais um pouco, dei-lhe alguns conselhos, para não fazer coisas erradas não usar drogas, enfim, mesmo sabendo que é impossível, pois diante das circunstâncias que aquela criança vive é inevitável que se envolva com o que há de pior nas ruas.
   Ele me agradeceu, surpreendentemente educado aquele menino, pegou sua sacola e foi saindo devagar, como se não quisesse mais sair dali. Fui acompanhando aqueles pés descalços e lhe falei;
  -Bruno vá com Deus, espero e credito que você será um grande homem, tudo que você sofre hoje vai passar.Você tem um olhar de menino bom, não deixe que nada nesse mundo tire de você esse olhar. Eu acredito no seu olhar, eu confio em você!
O menino triste me olhou mais uma vez dentro dos olhos e disse;
  -Você acredita em mim, no meu olhar? O problema é que eu não acredito no olhar de ninguém. Obrigado tia. 
  O menino de olhar triste e pés descalço foi embora sem olhar para trás, eu fiquei lá parada pensando no que acabara de ouvir de uma criança de onze anos.
Que pena, que triste.. aquele menino com jeito de menino bom já estava contaminado pelo descaso, falta de respeito, de solidariedade, pelo desamor e pela falta de esperança!
  Nunca vou esquecer aquele olhar do Bruno, espero que um dia ele encontre um  olhar que possa acreditar, confiar. Espero que chegue até ele um olhar de luz que o ajude na caminhada pela vida.
  Espero também que esse dia não demore muito, hoje esse menino de olhar triste e pés descalços ainda tem uma chance, porém diante da vida que ele leva, no meio em que vive com certeza aquele olhar se transformará e os pés com a  transformação do olhar estarão calçados.
   Algum tempo já se passou e continuo a lembrar daquele olhar.Não esqueço aquela criança, sozinha, sem ninguém por ela, desamparada, tendo que abrir seus próprios caminhos,
   Me pergunto; Porque as crianças sofrem?
  Crianças deveriam estar imunes a tudo que lhes fizesse sofrer, todos os perigos, tristeza, maus tratos e abandono!
Constato em minhas reflexões que o único caminho, é cada um fazer a sua parte, eu faço a minha, você a sua, pessoas, governos, entidades, todos devemos nos unir para juntos amenizar  o sofrimento de tantas crianças.
  Então, se todos ajudam, por que não dá certo? Por que o abandono? Onde estamos falhando?
 Chego a conclusão que falta comunicação, é isso mesmo falta nós fazermos a comunicação a Deus para avisá-lo sobre o que vem acontecendo com nossas crianças.
 Será que Deus está ocupado demais com os que sabem rezar e pedir e não dá conta de atender as crianças?
 "Deus essas crianças não tiveram ainda sequer a chance de aprender a rezar!
  Olhai nossas crianças, não as esqueça jamais, sei que é muita gente  a lhe fazer        pedidos, mas imploro para que não abandone as crianças, elas precisam de sua    atenção e proteção
  Deus nossas crianças são o futuro, não queremos um futuro de olhares tristes e pés descalços!"

(Rose Oliveira)


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